quarta-feira, 21 de março de 2012

Rua Léo Clube

Ainda bem antes de completar uma década de vida

Nas primeiras vezes em que sairia de casa sozinha

Me via parada em frente a janela cinza, que ficava

Entre a janela cercada de azulejos verdes

E aquela de vidros bordados misteriosos

Onde nossas bolas jamais poderiam cair

Ou se perderiam pra sempre

A janela cercada de azulejos verdes

Com sua rouquidão, sempre me questionava e sorria

Ali mais acima, atrás da parede

Um colo cor de noite que tive antes ainda

Bem perto do muro em que pichações românticas

Se confundiam com os beijos que ele escondia

Em algumas noites podia se ver ali

Pequenos anjinhos correndo com suas velas nas mãos

Invadindo o terreno baldio em suas tentativas de voar

Já em noites de quaresma

Ninguém se atreveria a passar por lá

As janelas de vidros bordados, quase sempre fechadas

Porém, com seu casal abraçado na varanda entre as roseiras

Cujos espinhos, supostamente, perfuraram algumas bolas

Enquanto suas rosas enfeitavam aquele amor

Que nem a morte separou

A janela cercada de azulejos verdes

Fazia chuva ou sol, aberta estaria

Com o sem a presença de sua Maria

Eu, vivia e aprendia a cair enquanto

Loucos e monstros corriam atrás de mim

Ali passei bons tempos

E alguns tempos passam

Iludida de que era eu quem passava ali

Sinto todas aquelas janelas com seus cabelos brancos

E peles nem tão brancas assim

Passando ainda por dentro de mim.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Paralisia

Olho, me comovo

Mas, na maioria das vezes, não me movo

A arte não pede licença

Invade violentamente o peito

Armada

Com sua tropa de choque

Pra me dar aquele toque

De que tem algo acontecendo

Será que eu estou vendo?

Ando sentindo o estômago embrulhando

O esôfago ardendo

A garganta moendo pra fora

Tudo que engoli-li

Até agora

A poesia, filha sem mãe,

Corre, desesperada

Escorre encharcada pela minha mão

Fugindo de parar,

Como tantas outras

No escuro de um porão.

Lembra aquela musica que a gente cantava...

Hoje citada, parece

Palavra de ordem sem sucesso...

E eu, TV, te vejo,

Vê se também se vê!

Como sempre parada,

Cheia de movimento e cores por dentro.