Ainda bem antes de completar uma década de vida
Nas primeiras vezes em que sairia de casa sozinha
Me via parada em frente a janela cinza, que ficava
Entre a janela cercada de azulejos verdes
E aquela de vidros bordados misteriosos
Onde nossas bolas jamais poderiam cair
Ou se perderiam pra sempre
A janela cercada de azulejos verdes
Com sua rouquidão, sempre me questionava e sorria
Ali mais acima, atrás da parede
Um colo cor de noite que tive antes ainda
Bem perto do muro em que pichações românticas
Se confundiam com os beijos que ele escondia
Em algumas noites podia se ver ali
Pequenos anjinhos correndo com suas velas nas mãos
Invadindo o terreno baldio em suas tentativas de voar
Já em noites de quaresma
Ninguém se atreveria a passar por lá
As janelas de vidros bordados, quase sempre fechadas
Porém, com seu casal abraçado na varanda entre as roseiras
Cujos espinhos, supostamente, perfuraram algumas bolas
Enquanto suas rosas enfeitavam aquele amor
Que nem a morte separou
A janela cercada de azulejos verdes
Fazia chuva ou sol, aberta estaria
Com o sem a presença de sua Maria
Eu, vivia e aprendia a cair enquanto
Loucos e monstros corriam atrás de mim
Ali passei bons tempos
E alguns tempos passam
Iludida de que era eu quem passava ali
Sinto todas aquelas janelas com seus cabelos brancos
E peles nem tão brancas assim
Passando ainda por dentro de mim.